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Thais Silva: um futuro de protagonismo negro na capa da Glamour criada pela jovem artista

Um Brasil com a representatividade assegurada é o desejo da jovem ilustradora de 19 anos com sua arte afrofuturista, uma ode à celebraçãoda cultura negra com a tecnologia.

O termo “precoce” parece ganhar uma nova dimensão quando a gente se depara com talentos como o de Thais Silva, mais conhecida nas redes como Black Collage (@blackcollage_).

Aos 17 anos, uma colagem que passava pelo feed dela chamou sua atenção. “Já tinha visto muitas imagens do tipo, mas ainda não tinha ideia desse conceito.” Foi assim que se encantou pela técnica, se aperfeiçoou (o Insta dela é cheio de colagens engajadas e impactantes), até chegar à arte que é uma das três capas desta edição.

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Thais Silva (Foto: Thais Silva. Direção criativa Leticia Haag)

Detalhe: hoje ela tem 19 anos. Em seus trabalhos, Thais usa fotografias históricas, num resgate das suas ancestralidades negra e indígena – ela é descendente dos goitacá, tribo da região do Espírito Santo. Capixaba, se mudou com os pais aos 7 anos para Petrópolis, no Rio de Janeiro, onde hoje vive com o namorado. “Meu pai é pedreiro e minha mãe, faxineira. Me sustento sozinha”, conta, sobre o trabalho de ilustradora freelance, que aprendeu na base do autodidatismo e de cursos livres.

Foi por conta própria, também, que garimpou referências e chegou ao afrofuturismo, movimento que relaciona a cultura africana com a ciência e a tecnologia, e que marca o estilo de sua arte. “Sempre fui muito engajada, sigo os digital influencers negros, pesquiso, troco informações. A internet me possibilitou acessos inimagináveis, aprendi muito sobre militância e cultura negra.”

Antes das redes, foi na escola pública onde estudou, em Petrópolis, que a semente da consciência de classe foi plantada. “Foram meus professores de português e filosofia que me ensinaram sobre racismo estrutural e desigualdade social”, lembra, sobre a influência, segundo ela, definitiva para sua vida e carreira. Vide nossa capa: “Fiz a projeção de um futuro otimista para a população, onde teremos nossa representatividade assegurada”. Tá certíssima, Thais!

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Capa Revista Glamour

De onde vem, para onde quer ir?
Venho de Dores do Rio Preto, uma pacata cidade no interior do Espírito Santo. Quero rodar o mundo.

Qual foi seu momento de virada como artista?
Aconteceu numa fase de muita instabilidade psicológica e financeira. A arte me salvou.

Por que ser engajada nas redes?
Ser engajada nas redes me conectou mais com o público e com outros artistas que fazem parte do movimento. Aumentou significativamente o reconhecimento do meu trabalho.

O que deseja que sua arte provoque nas pessoas?
Quero que provoque reflexão, autoconhecimento, criatividade e esperança.

Quem são as mulheres que te inspiram hoje?
As artistas negras brasileiras Rosana Paulino, Renata Felinto e Angelica Dass.

Onde busca inspiração para criar?
O afrofuturismo já indica muitas de minhas referências. Sempre busco inspiração na minha ancestralidade afro-indígena. Quando produzo, gosto de escutar músicas de estilos variados. Também olho outros movimentos artísticos, como o abstrato e o minimalista.

A arte também pode ser política?
A arte é política no sentido amplo, pois qualquer tema que ela aborde é um convite ao debate. A arte propõe narrativas: se meu público questiona a partir da minha arte, é porque ela é politicamente engajada.

O que você deseja para o nosso futuro, depois da pandemia?
Espero que as pessoas pensem coletivamente. E, também, que todos se conscientizem nas próximas eleições, tendo em vista os erros cometidos pelo governo durante a pandemia.

Fonte: Revista Glamour

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