Como lidar com a incompatibilidade sexual

Estaria disposto a sacrificar o seu estado físico e mental pelo seu estado civil? “

A incompatibilidade sexual não é um problema raro. Pelo contrário, raro é encontrar um parceiro com o mesmo apetite sexual, já que são muitas as possíveis combinações. Para algumas pessoas é mais gratificante quando tudo é previsível – e elas sabem que após o passo A virá o B, depois o C e o D –, enquanto para outros ter relações da mesma maneira é muito pouco estimulante; há quem ache muito empolgante ser-se expressivo na cama, quando para outras personalidades só pensar nisso é inapropriado…

Com tantas aritméticas sexuais possíveis torna-se difícil acreditar que muitas pessoas já encontram “O” tal – aquele com quem tudo é perfeito –, até chegarem ao sexo. E de repente não há química nem fogos de artifício. Não entraremos na avaliação de cada um da escala de 0 a 10 do que é satisfatório: há quem diga que 7 basta e quem pensa que 5 é o suficiente. Mas a verdade é que o sexo ou é bom ou não é nada especial. E isso obviamente interfere na frequência.

Embora esteja comprovado que os Millennials têm menos relações sexuais que as gerações anteriores, os mais velhos não parecem estar num cenário muito mais favorável. Segundo uma pesquisa da professora de Sociologia da Universidade do Estado da Geórgia, nos Estados Unidos da América, Denise A. Donnelly, estima-se que cerca de 15% dos casais não tenham feito sexo com o cônjuge nos últimos seis meses a um ano. Embora o número alarmante de dias, a professora afirma ainda que a maioria dos celibatos involuntários estava num relacionamento estável e relutava em sair do mesmo.

Será, então, possível ser feliz com alguém que não satisfaz a 100% as suas necessidades e desejos sexuais? Um desconforto entre casais pode esconder algo mais do que um simples apetite sexual mais baixo. As possibilidades aqui também são infinitas, desde um dos dois ser assexuado – se ambos são não deve haver problemas, já que aqui talvez se queira apenas uma boa companhia –, ter alguma incapacidade física, ter sofrido um trauma psicológico e até o desejo inconsciente de sabotar o próprio relacionamento. E, claro, há a infidelidade, quando alguém sente o prazer em conhecer novas pessoas e ter relações sexuais esporádicas, mas diz amar o seu parceiro e não pretender deixá-lo. Em todos esses casos, a melhor solução é recorrer a um especialista, um psicólogo ou um sexólogo, para descobrirem juntos a causa e, em seguida, procurar soluções. Quando a justificação é física, pode ser até mais fácil de lidar do que quando a causa é psicológica, mas tentar resolver sozinho pode gerar apenas frustração. 

Não existem receitas mágicas ou universais. Terminar um relacionamento implica sempre ponderação, porque não há garantias de que, no futuro, encontrará outra pessoa que lhe dará tudo o que seu atual parceiro lhe oferece mais o que tem sentindo falta: o sexo. É importante que não se compare com os outros, pois a comparação já é prejudicial por si só e altamente subjetiva. “Ele é zero na cama mas 10 em tudo? Saiu-lhe a sorte grande!”, afirma Susana Dias Ramos, especialista em sexualidade clínica e terapia de casal, e explica: “Mas para reclamar o seu prémio vai ter que o informar disso mesmo, de que se encontra insatisfeita mas que, por nada deste mundo, quer perdê-lo. Aqui está a chave de tudo, como aliás é em qualquer relação, a comunicação aberta e franca.”

Susana diz ainda que está romantizado na cabeça das mulheres um homem sedutor e experiente “que, de repente nos toca e nos faz viajar para terras longínquas”, mas a verdade que alguém que leia a nossa mente é raro “E para sermos ainda mais realista é raríssimo!” Os casais evoluem sexualmente porque se vão conhecendo à medida que a relação também evolui. E isto, leva tempo. Uma sugestão da especialista é ensinar o parceiro ou parceira, inicialmente com linguagem não-verbal, “guiando-lhe as mãos e controlando os movimentos e depois, devagarinho, vá instituído regras, maneiras, critérios durante a relação sexual — tanto verbalmente como com demonstrações”, diz e reforça que, na realidade, não é preciso que outro saiba o quanto e até que ponto está a ser ensinado.

Um estudo publicado no The Journal of Sex Research realizado com pessoas casadas e casais que vivem juntos ou em relacionamentos de longo prazo, verificou-se que, quando o sexo era satisfatório, era comum procurá-lo e repeti-lo por iniciativa própria. Por outro lado, quando eram insatisfatório, a princípio, uma das duas partes tinha iniciativa, mas com as frequentes negações e desculpas do parceiro deixavam de o fazer. É nesta fase de rejeição que são comuns as traições.

Mas há também outro preço que pode ser pago, menos óbvio e, por isso, menos debatido. Segundo um estudo da American Physiological Society, estar num relacionamento no qual o sexo não nos satisfaz, às vezes, é o gatilho para problemas como a obesidade e vícios, porque a pessoa passa inconscientemente a procurar outros prazeres a fim de compensar essa falta. O celibato involuntário por qualquer motivo – note-se em qualquer forma de relacionamento, seja ele heterossexual, bissexual, homossexual ou transexual… – gera sentimentos que variam desde a frustração à depressão grave. Em última análise, deve ser honesto consigo mesmo e ir em busca do seu bem-estar, já que o seu estado físico e mental deve ser mais importante que do seu estado civil.

Fonte: sabado.pt

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